23.8.07

Simplicidade

Simplificar é libertar-se. Libertar-se é viajar mais ligeiro. Ao viajar mais leve, estou mais predisposto a ser guiado pela brisa que ondula os campos, torno-me mais flexível como plantas e árvores, felino com espaço para a liberação e livre expressão de movimentos. Ultrapassando a rigidez, ao cair, evito quebrar-me. Sou como água que abraça as pedras que encontra numa dança breve fluída eterna.
Simplificar é vencer muitas dependências com alto grau de extensão e eficácia. Aos poucos o espaço transforma-se, interior e exteriormente. Ao permitir-me criar espaço, deixando que o ar circule, tenho mais disponibilidade para algo novo que surja. Ao simplificar, a nova qualidade do meu livre arbítrio será mais capaz de decidir o que quero fazer com mais disponibilidade.
Ao simplificar reduzo as minhas necessidades, quebrando amarras, cadeias e prisões.

Deslumbrar-se na aparente simplicidade dos eventos, matizes distintas de sombra e luz, de escuridão e claridade. A vida mezclando cores que tinha por seguras, eternas e impermeáveis à novidade. Sucessão de estações inonimáveis, recriação maravilhosa, alquímica que me suspende a respiração e estende a maravilha para além do sentido.

Simplificar é voltar atrás caminhando em frente. Voltar a ser semente, encerrar em mim um mundo de possibilidades. Encerrar em mim um mundo de manifestações possíveis.

23.6.07

Tem ela nos olhos segredos

Tem ela nos olhos segredos
Serenados pelo tempo
Faz da noite solidão
E do dia alegre canção

No cabelo o murmúrio do vento
Flores selvagens no coração
No passo o contentamento
Por ter perdido a razão

Tem no riso mil meninices
Que espalha nos campos de inverno
E não são velhas crendices
Que lhe ocupam o coração terno

Embriaga-me com o seu andar
- Felino que docemente balança
O astro sol na sua dança –
Como fazem as ondas no mar

Raíz

Viajar
Caminhar por pistas batidas
Ao som do rufar de tambores que marcham
Ébrios de sombras e luz fusca
Considerando a lua como adereço
Para os inconsequentes que somos os sonhadores
Viajar
Propagar-se em mil passos e sensações
Sentir a erva molhada e pedras que cortam o pó dos pés
A sola dos meus pés é um tapete que estendo ao mundo
Viajar
Mil aromas electroquímicomagnéticos
Mil cores do laboratório da dor e alegria
Mil essências esperando a dissolução
Mil reverberações e maquinações quânticas
Mil diapositivos de fama e glória
Sob uma fina capa do bom da história guardados
Viajar
Manifestação jugular e intestinal do desejo e poder?
Espaço sideral residência do inconsciente?
Tempestade conjugada pela magnificiência do vento, dos eventos e temperamento
Viajar
Pisar as raízes da alma e do espírito
As raízes do corpo simbólico e
Deste que me pesa nos ossos e emoções
Cortar as raízes alheias junto com as nossas
Por desconhecimento
Desconhecimento da raíz imensa e única
Que nutre, alimenta e cuida
O espírito infinito que somos todos, Tu e Eu
Como dança cósmica inseparável da noite escura do tempo

Sugestão

Busco o proibido através do sol que vibra
Das estrelas semeadas cada noite sobre a terra
Das árvores que crescem verdes na primavera
E descansam desnudas no inverno
Busco o proibido na ondulante mancha verde que cuida da terra
No canto dos pássaros comedores destes insectos que me molestam
No aroma e sabor e cor da fruta que me renasce
Busco o proibido nas ondas de praias desertas
Na lua nova e prenhe que vem e vai
Na escuridão que prepara o novo dia
Busco o probido no rio que murmura canções de liberdade
Nas borboletas que se balançam com graça
Busco o proibido na Vida manifestação criação desse “Ah!” mudo
Na Vida inominavél e assombrosa da qual faço parte
Escutando as vozes que sou
Chego à conclusão que só me posso
Permitir o proibido!

4.5.07

Bichocleta

Reciclagem com creatividade e sustentabilidade. Relação amorosa e fusão entre uma bicicleta, uma máquina de lavar roupa e um bicho inominável, sentados confortavelmente num banco de automóvel.

Espaço de trabalho, exercício físico e contemplação da natureza.

Poupança de electricidade e gastos de ginásio.

Em funcionamento na comunidade Valle De Sensaciones, Granada.








12.4.07

Circunda-te de rosas

"Circunda-te de rosas, ama, bebe e cala. O mais é nada."
Fernando Pessoa